domingo, 15 de abril de 2012

Desatentos ou desatendidos?

“Uma reflexão sobre a medicalização da infância e adolescência”
O Brasil é o segundo maior consumidor mundial de Ritalina. (Globo News / novembro de 2010). Relacionando um artigo da Epsiba (Escuela Psicopedagógica de Buenos Aires) de Jorge Gonçalves da Cruz, com esse mesmo título e uma reportagem no site “Globo News” com o dado estatístico da medicalização da infância e adolescência no Brasil nos chamados TDAH e DDA (em 2000 foram vendidas 70.000 caixas e em 2009, 1.700.000, um aumento gigantesco em 9 anos) gostaria de registrar minhas reflexões como psicopedagoga.
Tenho ouvido nos últimos anos muitos pais de alunos de diferentes faixas etárias com queixas de que os filhos (considerados inteligentes) não conseguem prestar atenção nas lições, manter foco na leitura e nos cálculos matemáticos. Por outro lado o mesmo comportamento nas atividades que gostam ou lhe despertem interesse.
Também ouço relatos de professores que sentem dificuldades em “despertar a atenção e manter o interesse” , com argumentos de que estão sempre mais envolvidos com outras demandas. Muitos são trazidos já com o diagnóstico de Distúrbio e Déficit de Atenção, medicados diariamente antes de ir para a escola.O que será que em nosso tempo de crianças, há 30 ou 40 anos, era diferente? Em que escola estudamos que não havia tanta dificuldade de atenção?
Observo atualmente que há diferentes “modalidades de atenção” e também “modalidades de aprendizagem” da geração que nasceu em uma sociedade hiperativa e desatenta dos afetos e da convivência humana. As crianças e adolescentes nascidos dos anos 90 até a atualidade, cresceram em contextos sociais muito adversos dos pais. Famílias e escolas tiveram que, muito rapidamente, aprender a conviver com a entrada das tecnologias no cotidiano. Este fato trouxe benefícios, mas com certeza simultaneamente provocou alguns prejuízos à convivência e ao papel formador e insubstituível de pais e professores. O tempo compartilhado diariamente tem sido cada vez mais invadido pelo computador, vídeo game e celular.
Há cada dia menos brincadeira e mais brinquedos, principalmente os eletrônicos. Estas mudanças sociais têm exercido influência direta no modo de ensinar, de processar informações e aprender. Não quero com isso afirmar que toda tecnologia seja nociva ao desenvolvimento dos filhos. Mas que pode subtrair tempo essencial para a construção de laços afetivos nos relacionamentos humanos onde falar e ouvir, olhar e ser olhado sejam tão importantes quanto teclar e enviar mensagens de texto com apenas 140 caracteres...
Coloco a pergunta: há crianças e adolescentes desatentos ou estão desatendidos como seres humanos em desenvolvimento, com necessidade de atenção, olhar tranquilo e tempo disponível por parte dos adultos? Desatendidos de serem ouvidos em suas angústias de criança, de poderem expressar suas necessidades. Questiono que haja sempre, em todos os casos, a existência de uma “doença que precisa de remédio” ou na realidade um indivíduo com demandas emocionais e familiares a serem primeiramente atendidas ou solicitando atenção.
Fica fácil, concreto e mais breve depositar apenas em uma medicação toda a ação e tratamento esperados para a mudança de um comportamento. É muito mais difícil e trabalhoso olhar para as necessidades de nossos filhos, alunos enquanto seres em desenvolvimento e que precisam de bons mediadores de sua aprendizagem.
São hiperativos por característica individual de atitude pró-ativa diante da vida ou pelo excesso de atividades obrigatórias, em uma agenda sobrecarregada de cursos e atividades para se manterem ocupados e os pais com a consciência tranquila de que fazem o melhor para a formação dos herdeiros?
O melhor que os pais podem fazer é estarem mais atentos ao desenvolvimento de seus filhos, priorizando em cada idade atividade adequada, deixando tempo livre para serem crianças.
É preciso fazer um contraponto a esta tendência atual de rotular, medicar crianças e adolescentes e a escola tornar-se cada vez mais dependente de que os alunos que apresentam dificuldades estejam medicados para vir à escola e aprender. Há que se ter outra forma de lidar com as subjetividades envolvidas e que podem ser determinantes no comportamento e na aprendizagem.
Pais e educadores precisam se unir e buscar alternativas para trabalhar com esta questão tão contemporânea, na tentativa de discriminar os reais casos portadores de disfunção neurológica daqueles que no contexto não se incluem nem necessitam medicação, mas precisam antes de apoio terapêutico, orientação e reestruturação emocional.
É preciso mudar a pergunta de por que os alunos não prestam atenção e não aprendem para que escola está sendo oferecida e como está se realizando o processo de ensino/aprendizagem. Também se perguntar sobre em que contexto vive essa criança e o que precisa ser modificado no seu entorno para ajudar na sua evolução.
É preciso olhar e escutar mais e melhor nossas crianças e adolescentes, compreender o que dizem através do comportamento desatento e hiperativo para chegarmos à compreensão do real conflito, a um diagnóstico mais assertivo e um tratamento adequado.

Onde me encontrar?

Sorocaba
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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Afeto e Aprendizagem: a linha e o linho...

Convivendo com crianças e adolescentes há alguns anos, tenho observado a importância das relações afetivas nos processos de aprender e ensinar.
Estabeleci uma analogia para desenvolver esta idéia: a aprendizagem é como o bordado de um tecido e o vínculo é a trama que se estabelece entre a linha e o linho, o aprendiz e o ensinante.
No início do nosso desenvolvimento,somos como um linho cru, que acabou de sair do tear, a espera de mãos habilidosas das bordadeiras ensinantes. Nossa família é a primeira “caixa de costura”, onde encontraremos bastidores, que nos darão segurança para iniciarmos este processo chamado Aprendizagem.Nesta instância se dará o “projeto” do bordado, o plano da arte a ser feita. Na família se inscrevem os sonhos que nossos pais tiveram conosco, antes mesmo de nascermos, quando preparavam nosso tecido, sonhavam o nosso bordado...
Quando nascemos começa a arte dos nossos pais: bordadores de seres pensantes e afetivos. Vão nos inscrevendo as cenas da nossa infância: casas, árvores, flores, espinhos... as marcas das histórias contadas antes de dormir, dos aniversários, das conversas sobre o céu e as estrelas... Certamente temos em nosso tecido/identidade bordados refeitos e pontos difíceis, frustrações que toda infância traz.
A beleza do bordado vai se constituindo quando o tecido se deixa bordar. Muitas vezes, por condições do tear, surgem tecidos não tão lineares...Darão mais de trabalho às mãos pacientes das bordadeiras. Mas serão possíveis de receber o bordado.
Quando entramos na escola passamos a receber “pontos” de outras mãos: nossos professores. Mãos muitas vezes calejadas de tanto tecido bordado, ao longo de anos de sala de aula/costura... É importante dar continuidade ao bordado, para que seja ampliado. São introduzidas aplicações do Português e da Matemática, zigue-zagues das dúvidas, as bainhas das avaliações... Podemos ter fitas coloridas das Artes e a geometria do ponto cruz.O tecido vai se colorindo com os fios da alegria de aprender. Pais e professores devem ter afinidades nos planos para o bordado,devem confiar uns nos outros, na busca pelo mesmo objetivo: uma pessoa com identidade e projetos a serem descobertos...
Nossa escolaridade vai seguindo e o tecido vai ganhando uma forma, uma função: quem sou eu? O que farei depois de “terminado” meu bordado? Entramos na adolescência e deixamos menos as mãos bordadeiras atuarem sobre nós... Felizmente, o principal já foi bordado na primeira infância: o caráter, a personalidade. Assim, temos estrutura para receber o corte da profissão e garantir nosso lugar no mundo. Estaremos formados pela trama entre o linho a linha...
A aprendizagem precisa das agulhas do pensamento e da inteligência para se constituir no bordado do Saber. Os fios são as situações de vivência que, quanto mais abundantes, mais darão chance do bordado ter harmonia. As mãos bordadeiras/ensinantes estabelecem a trama no tecido, corpo e alma do aprendiz.
Quando surgem dificuldades para aprender é necessário examinar cuidadosamente o tecido e trama inscritos nele, para compreender o que se estabeleceu em anos de laçadas, nós e arremates. Precisamos ter mãos habilidosas para refazer alguns pontos, ampliar outros e dar colorido ao desenho .
A psicopedagoga é uma bordadeira de pensamentos, construtora de tramas com as crianças/tecido, utilizando os recursos que juntas podem lançar mão para resignificar este bordado/aprendizagem.Assim venho construindo minha prática clínica, autorizando-me a pensar metaforicamente sobre este tema. Compreender e aceitar os tecidos não tão fáceis e “perfeitos” para trabalhar com crianças que precisam da nossa ajuda... Acreditar na possibilidade da beleza do trabalho terminado, aceitar o desafio de relacionar a linha e o linho, o afeto e aprendizagem.

Quem sou eu?

Sou mineira de nascimento (Cristina , sul das Minas Gerais), paulistana de formação e sorocabana de profissão. Sou casada, tenho um filho de 13 anos e uma família unida. Gosto muito de ler, viajar, cozinhar para meus amigos e cuidar dos meus jardins...
Acredito que na simplicidade da vida é que está o valor, o sentido de estarmos neste mundo...
O mais importante, o essencial, é invisível aos olhos mas sentido com o coração...
Por isso escolhi trabalhar com pessoas, por isso acredito que o humano está acima e antes de toda técnica e de todo conhecimento...
Compartilhar minha vida e minhas experiências  nestes 44 anos de vida é o objetivo deste blog...
vamos em frente!

Quem sou eu em minha profissão?


Pedagoga graduada pela USP
Psicopedagoga Clínica e Institucional pós-graduada pela PUC SP
Professora Especialista no curso de pós-graduação em Psicopedagogia da UNISO
Atendimento de crianças, adolescentes, jovens e adultos na área da aprendizagem .Orientação profissional e Assessoria Institucional. Abordagem clínica de problemas de aprendizagem, orientação de pais e acompanhamento de casos de inclusão escolar.Supervisão clínica a profissionais da área.Coordenação de projetos psico-educativos em Instituições.